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A Terceira Lei - Capitulo um

Por: boyonfire - Categoria: Gays

Você deixou algo queimando lá dentro

A cor branca não deveria significar paz e também não deveria ter significado algum. O branco é solitário, é triste, é infernal. O branco não poderia ficar estampado em nossas paredes ou em vestidos de noivas, é uma cor que dá ar de fragilidade para as coisas. A sala de espera, branca demais pro meu gosto, me entediava, me sufocava, me irritava e o ar condicionado estava fazendo meu nariz congestionar. Eu esperava meu pai sair da sala de seu psiquiatra, sentado no sofá e lendo uma revista que havia pegado na mesinha de centro. Normalmente o meu pai atrasava era pra chegar à terapia. Fazia cinco minutos que o tempo da seção com o Dr. Luiz tinha acabado, mas meu pai ainda não havia saído da sala. Eu tinha quase certeza que se eu não tivesse ligado para o meu pai a fim de fazê-lo lembrar da terapia, ele teria faltado novamente. Finalmente, dez minutos depois, meu pai saiu da sala com as sobrancelhas levantadas, uma mão levantada com os cinco dedos à mostra e a boca comprimida me mandando a mensagem de que esperaríamos mais. Aliás, eu esperaria mais.

- O que ainda precisamos esperar? - falei me levantando, após meu pai parecer receptível a perguntas.

- Ele me dirá daqui a pouco, Marcus. Calma! - meu pai dizia sereno.

- Quanto tempo ele ainda vai levar? - falei com um tom de cansaço.

- Filho, só alguns minutos - meu pai falou.

- Vinte! - negociei.

- Dez! - ele disse. Melhor pra mim!

- Tomara que sim! - eu disse como se fosse uma oração antes de voltar para a poltrona branca.

Depois que meu pai entrou novamente na sala, eu bufei. A recepcionista ruiva com um uniforme branco me encarava, mas parou quando lancei um olhar raivoso para ela. Eu aparentava ter treze anos novamente. A irritação fazia isso comigo. Peguei meu celular e disquei o número de Helena.

- Oi, já está em casa? - Helena disse antes que eu pudesse dar "alô".

- Ainda não, o meu pai ainda não saiu da terapia!

- Não acredito! - Helena falou como se estivesse dizendo um palavrão.

- Daqui a dez minutos eles saem de lá, juro... - pensei em algo para falar - nos espere nas barcas.

- Eu estou aqui! Mas eu preciso pegar uma barca logo. A minha mãe ficou toda desconfiada porque seu pai veio te buscar e depois pediu para eu ir para a ilha.

- Por quê?

- Porque ela é maluca! - Helena falou com alguém fora do telefone e depois voltou a falar comigo - e agora, Cucu?

Suspirei.

- Vai para a lanchonete do meu tio e fique me esperando lá. Estou com fome. Podemos lanchar e ir para a minha casa.

- Tudo bem, ué, mas você vai pagar, estou sem dinheiro. Beijos - Helena disse rapidamente e desligou antes que eu pudesse me despedir também. Talvez ela estivesse ocupada com a fila, que era comum ter nessa hora.

Esperei novamente meu pai sair da sala, até que ele finalmente sai. Durou menos de dez minutos dessa vez, com certeza! Dei um abraço nele e deixei minha mão apoiada no seu ombro. Quando vi seu psiquiatra na sala dei um tchau com a mão e sai do prédio com meu pai, mas enquanto estávamos no elevador, uma coisa me veio à mente. O Dr. Luiz me deu um sorriso fechado e não devolveu o aceno de despedida, um comportamento estranho já que normalmente ele era mais sorridente e simpático, embora eu normalmente fosse menos sorridente para ele. No carro, era do meu pai que eu sentia a estranheza. Além de não parecer afim de conversa, ele mordia o lado de dentro dos lábios e parecia ter seus pensamentos longe dali. Eu não fiz perguntas e nem faria, se eu precisasse saber de algo ele me contaria. Eu me perguntava se era eu ou eram eles que estavam muito reservados naquele dia?

- Helena vai estar me esperando na lanchonete do tio Fábio, pai.

- Tudo bem, vá de bicicleta até lá.

- E se ela estiver a pé?

- Você a carregue - ele ligou o radio em volume baixo.

- Sorte minha que ela sempre anda com a bicicleta dela - falei como quem pensa alto.

- Sorte minha também... que vou poder assistir um pouco mais de televisão. - ele olhou para mim com um sorriso - Eu não teria coragem de deixar meu filho preferido carregar tanto peso.

Eu fui obrigado a sorrir. Talvez por saber que se eu realmente precisasse, ele me levaria até Helena, mas também cogitei a idéia de meu pai ter feito uma piada sobre o peso de Helena. Ela não era gorda, mas também não era super magra.

- Helena não é gorda! - olhei para ele com um falso olhar irritado, mas com um sorriso fraco - E eu sou seu único filho, lembre-se.

- Meu único filho... - meu pai repetiu enquanto batia no volante com os polegares ao ritmo da musica.

Depois que chegamos em casa, meu pai ligou a TV para assistir, eu peguei minha bicicleta e fui para a lanchonete do meu tio me encontrar com a Helena.

Helena e eu nos conhecemos na escola. Depois da formatura no ano passado, eu perdi contato com a maioria dos meus colegas do colégio. Mas Helena e eu não éramos colegas, nós éramos amigos, confidentes, cúmplices... Talvez o adjetivo certo seja “melhores amigos”.

A vida aqui na ilha era um pouco solitária, não que isso fosse um problema, desde novo eu me adaptei a fazer as coisas e a me divertir sozinho, mas confesso que ter alguém como a Helena me ajudava bastante. A solidão dói e eu morria de medo de que a dor me tornasse uma pessoa vazia, por isso eu preservava o que eu e Helena tínhamos. Ela morava na cidade com a mãe e o pai e quando eu não ia para lá vê-la ela vinha para cá me ver, às vezes ela dormia aqui, às vezes eu dormia lá, às vezes não nos víamos, mas não ficávamos sem nos falar. Nunca ficávamos um dia sem nos falar.

Helena estava sentada em uma das mesas. Com óculos escuros levantados, ela mexia no seu celular. Ela não me viu chegar, eu aproveitei para tapar os olhos dela e a deixei tentar adivinhar que era eu quem tapava sua visão.

- Te peguei! - ela riu - culpa da pulseira de mendigo! - ela disse rindo enquanto tirava minha mão do seu rosto.

- Ah que sem graça! - eu falei, sorrindo e fingindo um tom de decepção. Ajeitei minha pulseira vermelha que eu havia ganhado do Sam no natal e sentei de frente pra ela - por falar em mendigo, seu cabelo ta bonito hoje!

- Metido! - ela xingou rindo e olhando o reflexo na tela apagada do seu celular, passou a mão no cabelo para ver se havia algo fora do lugar.

- Não fale da pulseira... - falei rindo – me dê uma também.

- Hmm - Helena negou com a cabeça - mas convenhamos que ela é horrível! Você pode vestir as roupas mais caras da ilha, mas essa pulseira dá um ar de pobreza em qualquer look. -Helena tinha sua mão em cima da mesma mão em que eu tinha a odiada pulseira de couro vermelho trançado.

Sam e Helena tinham um desafeto desde o colégio. Não sei exatamente como e nem mesmo quando tudo começou, mas ela sempre implicou com ele pelo jeito calmo demais dele. Ela até já tinha dado um apelido para ele, mas eu não me lembro qual era. Na realidade era Helena que não gostava de Sam, que por sua vez a ignorava.

- Se liga! Eu tiro a pulseira, se você dormir lá em casa hoje, - eu sabia que ela não poderia dormir aqui hoje porque a sua mãe só permitia isso quando o meu pai pedia com antecedência. - topa?

- Eu topo, claro! Mas você sabe que isso não vai acontecer porque a minha mãe é problemática. - Helena falou, depois revirou os olhos e logo depois terminou de mexer no celular.

Nós lanchamos e depois pegamos nossas bicicletas para irmos até a minha casa. Eu pedalava calmamente enquanto sentia o vento bater e balançar meu cabelo. Já era fim de tarde e o clima era agradável. A ilha era um lugar ótimo para se viver, desde a natureza aqui até as casas e os moradores. Eu nunca iria embora daqui, a não ser que não existisse escolha.

Na esquina de casa, meu pai estava sentado no banco que ele mesmo prendeu na calçada, de baixo de um pinheiro. Ele lia um jornal e seus óculos estavam quase na ponta do nariz. Ele nos viu chegar mas não disse nada. Passamos direto por ele e fomos para a minha casa.

- Você gostaria de ter uma madrasta? - Helena disse, ela estava deitada em cima da minha cama.

- O que for melhor para o meu pai é a minha preferência - Eu respondi, no chão com as costas encostadas na cama e com a cabeça contra a dela, eu tentava resolver um cubo mágico.

- E o melhor para ele é...? - Helena disse. Ela se remexeu na cama, eu pude sentir

- Eu não sei! - revirei os olhos e continuei - ele nunca reclamou, mas é claro que a solidão o incomoda. Eu simplesmente não me meto nisso e se um dia ele aparecer com uma moça eu irei apoiá-lo, mas até isso acontecer, eu vou continuar respeitando a sua decisão de ficar sozinho.

Longo silêncio

- E se fizéssemos um perfil para ele em um site de relacionamento?

Eu ri do que acabei de ouvir.

- Se por acaso eu aceitasse isso, como faríamos o meu pai aceitar? E o mais difícil seria encontrar uma mulher que adorasse falar e preferisse ouvir pouco, porque só assim para aguentar os sims e os nãos do meu pai sem pular fora. - depois de pensar um pouco eu continuei - Talvez um dia ele encontre alguém por ai e sem a nossa ajuda.

- Até lá ele continua um solteirão igual a você? - Helena deduziu

- Isso mesmo.

Era como dizer para uma criança que choveria no final de semana. O descontentamento floresceu em seu rosto. Eu ri de leve, me virei e dei um tapinha na testa dela.Na sala, meu pai ainda continuava assistindo televisão. Eu e Helena ainda estávamos no quarto conversando até que o telefone dela toca.

- Oi - Helena falou - agora? - ela esperou enquanto na outra linha algo estava sendo dito. Algo ruim pela expressão dela - Não posso acreditar! Já estou indo - e desligou

- O que houve? - perguntei preocupado.

- Meu pai ligou avisando que a minha mãe está na delegacia.

- Por quê? - eu estava pasmo. A mãe de Helena não parecia o tipo de pessoa que se encrencaria a ponto de ir para a delegacia.

- Ai sabe se lá o porquê! - Helena falou se levantando – pelo que eu vi, ela brigou com um policial na rua e ele a prendeu. - rapidamente a calma de Helena tinha acabado e ela já falava um pouco mais alto - eu já estou cansada dessa maluquice toda! - ela parecia prestes a chorar - eu preciso de paz, gente! Ela é doida!

- Calma, vou falar com o meu pai - falei abrindo a porta e indo para a escada. Senti Helena vindo atrás de mim.

Meu pai estava na cozinha e se virou quando notou que Helena estava alterada.

- Pai, pode nos levar até as barcas? - gritei.

- Posso - meu pai gritou de volta.

- Não precisa tio Cássio! Não estou afim de dar trabalho para as pessoas também.

- Eu hein! - meu pai falou saindo da cozinha - só quem dá trabalho aqui sou eu - falou brincando, mas ninguém ali, além dele, estava para brincadeiras.

Colocamos a bicicleta de Helena na traseira do carro e depois meu pai nos levou até as barcas para Helena ir embora. Depois que chegamos, Helena parecia ter chorado por causa dos olhos vermelhos, mas não comentei, apenas a abracei como um até logo.

- Arrume algo para fazer na cidade e me poupe de precisar andar nessas barcas sempre! - Helena disse depois de me dar um beijo no rosto como e um abraço no meu pai. Pegou sua bicicleta que estava presa atrás do carro e depois foi embora para pegar uma das barcas.

Eu sabia o que era ser filho de alguém como a mãe de Helena. Meu pai era calmo, mas a doença às vezes o fazia ficar diferente do que ele é. Como ele mesmo disse, realmente ele dava um pouco de trabalho. Depois de chegarmos em casa meu pai fez um comentário.

- Eu ouvi o que houve com a mãe dela... Que chato não é?

- Pois é – respondi com os lábios comprimidos, indo para o meu quarto cansado.

No dia seguinte, acordei e senti um cheiro de queimado vindo do andar de baixo. Desci as escadas e fui até a cozinha, de onde vinha o cheiro de queimado e onde havia uma densa fumaça fedorenta. Prendi minha respiração, cerrei meus olhos e abri a porta da cozinha que dava para o quintal, com a finalidade de aliviar o ambiente da fumaça. Tinha uma leiteira no fogão com algo preto impossível de saber o que era. Desliguei o fogão, tentei respirar fundo para recuperar as forças, mas não consegui porque era impossível e não vi sinal do meu pai, nem no quarto, nem no quintal, nem nos banheiros e nem na varanda da frente. Sai para procurá-lo na esquina onde ele sempre ficava e o encontrei sentado no banco, cabisbaixo, pensativo, longe... Esse era ele o tempo todo, mas tentava disfarçar comigo. Andei com passos largos até ele e me sentei ao seu lado. Encostei minha cabeça no ombro do meu pai e ele se moveu, como se minha cabeça o incomodasse, então eu me sentei ereto. Puxei assunto

- Você deixou algo queimando lá em casa - eu falei sem olhar para ele.

- No sentido poético?

Eu ri

- Não, no sentido literal. Na cozinha.

- Uma pena, devia ser algo gostoso.

- O que era? - olhei para ele.

- Uma receita de mingau de milho - falou se endireitando e ficando de frente para mim.

Fiz uma careta, parecia comida de asilo ou de creche pública. Nada contra comida de escolas publicas, pois eu estudei em um colégio público a minha vida toda quase sempre eu comia algo de lá. Mas mingau de milho, não tinha um bom sabor para mim, pelo menos não na minha imaginação.

- Era uma receita melhorada, tinha leite condensado, desfaça essa cara de azedo.

Eu sorri e olhei para meu pai que estava me olhando. Eu me levantei do banco e o chamei para voltarmos para casa, mas ele preferiu continuar la. Embora me preocupasse o fato de meu pai ficar com aquele olhar naquele banco, não insisti. Fui embora e quando cheguei em casa, a fumaça já tinha acabado. Coloquei a leiteira na pia, enchi de água, peguei restos do milho que eu encontrei no balcão e joguei no lixo. Arrumei meu quarto e passei no do meu pai para ver se tinha algo para ser feito, mas já estava tudo organizado. Como meu pai trabalhava em casa, ele não vivia cansado e nós dividíamos as tarefas caseiras.

Mais tarde naquele dia, eu preparei macarrão com queijo para o jantar e enquanto nós jantávamos, meu pai estava com o olhar perdido, não era pensativo, era perdido mesmo. Eu tentei puxar alguns assuntos, mas ele respondia rapidamente, ou me dava um "huh" como resposta. Eu pensei na conversa que havia tido no dia anterior com a Helena e resolvi tomar coragem e tocar nesse assunto com ele. Era algo delicado de se falar já que desde a morte da minha mãe, meu pai nunca mais teve outra mulher, ou pelo menos não que eu saiba. Era difícil falar sobre essas coisas com ele e por isso eu evitava falar. A coragem ia sumindo e eu decidi deixar esse assunto para outra hora. Tentei falar sobre algo mais leve.

-Pai?

- Filho. - respondeu ainda comendo e sem me olhar.

- Amanhã eu posso dormir na casa da Helena?

- Vou pensar.

- Se o mundo acabasse agora, seria sim ou seria não?

Meu pai riu

- Seria não - disse rindo.

- Porque? - falei fingindo estar chocado, mas ele não me olhou.

Fingi semblante de tristeza. E meu pai segundos depois, voltou a ficar com o olhar perdido, mas dessa vez era olhando para mim. Deu um sorriso, mas ele não me devolveu

- Tudo bem? - perguntei.

- Não, nem um pouco.

- É a comida?

- Filho, não - ele disse colocando os talheres no prato e pousando as mãos na mesa. Ele parecia estar respirando por obrigação.

- O que é então? - coloquei a mão em cima da dele.

Seu corpo permaneceu parado, seus punhos estavam cerrados e seus olhos já não estavam em mim. Ele estava em uma espécie de choque, ou algo parecido. O pouco que eu sabia sobre quando alguém entrava em choque, era que só acontecia isso quando algo chocante acontecia. Em um jantar num dia comum era a ultima coisa que eu esperava que acontecesse. Bom, não era realmente a ultima coisa que eu esperava acontecer nessa noite, mas também não era a primeira.

- Pai, acorda! - falei com uma risada nervosa.

Ele não me respondeu

- Pai! - tentei de novo, mas ele ainda não respondia.

Meu rosto já tinha uma forma séria e triste, nesse momento. Do jeito que meu pai estava, era impossível saber quando ele iria me responder. Sem saber mais o que fazer, liguei para Helena, que estava na rua com a mãe e acabei deixando as duas nervosas comigo.

-... Ou você joga água na cara dele... - mais alguns burburinhos - não... Mãe pare de se meter!

- Helena! Eu vou desligar e jogar água nele! - falei rapidamente.

Meu pai ainda não se tinha se movido.

- Não! Não joga nada não. Liga para o psiquiatra dele!

Dr. Luiz, é claro!

- Isso obrigado, tchau! - falei.

- Tchau! Mande notícias!

Desliguei rapidamente e liguei para o psiquiatra.

- Boa noite Cássio, algum problema? - eu nem havia notado que eu estava com o telefone do meu pai.

- Dr. Luiz, aqui é o filho dele!

- Manuel, o que houve? - percebi a preocupação em sua voz. Embora ele tenha errado meu nome, não era hora de corrigi-lo.

- É o meu pai! - gaguejei quando falei a ultima palavra e continuei - eu não sei o que houve... para ele ficar assim!

- Como ele está? - Dr. Luiz falou com a voz trêmula. Talvez ele estivesse correndo, se trocando ou fazendo algo que eu não consegui descobri. Eu não queria descobrir nada que não fosse fazer meu pai sair do transe.

- Paralisado, ou pensativo... - tentei decifrar o seu olhar melancólico - não! Perdido mesmo! Acho que ele entrou em choque, não sei! O psicólogo é você, vem logo, por favor!

Ele parou de falar, mas eu ainda ouvia algo do outro lado da linha.

- Eu sou psiquiatra, não psicólogo! - falou me surpreendendo - mas o que aconteceu? Ligou para a emergência?

- Meu Deus, não! E agora, o que eu...

- Calma, daqui a cinco minutos eu chego ai! - me interrompeu e desligou.

Virei-me para meu pai.

- Por favor, pai...

Cheguei perto e toquei seu ombro. Como uma parede de vidro se despedaçando, meu pai caiu. O peso do seu corpo foi para o lado oposto ao meu. Tentei segura-lo, mas não fui o suficiente para evitar que ele caísse desmaiado no chão. Afastei a cadeira e o deitei de barriga para cima.

- Pai! - falei dando tapas no seu rosto com a intenção de desperta-lo - Acorde!

Alguns minutos depois do desmaio, ouvi a campainha tocar e fui até a porta. Pelo olho mágico, vi o psiquiatra. Abri a porta e o levei até a sala de jantar. Dr. Luiz conseguiu despertar meu pai, mediu sua pressão e o levou para o quarto com a minha ajuda. Eu preferi deixá-lo sozinho com meu pai, então eu desci para ajeitar as coisas e depois assisti televisão. Com certeza eles ficaram muito mais do que uma hora lá em cima, pois eu consegui assistir a um filme e meio antes que Dr. Luiz descesse a escada sozinho. Essas seções estavam um pouco longas do que o normal. Coloquei a TV no mudo e me levantei para levá-lo até a porta, mas ele parou no pé da escada.

- Você poderia me dar um pouco de água? - Dr. Luiz disse.

- Claro! - fui à cozinha, coloquei um copo de água para Dr. Luiz e ele pediu mais.

Meu pai já tinha estado bastante abalado antes, mas tem tempo, quando se completaram dez anos da morte da minha mãe foi a primeira vez. A fase depressiva durou alguns meses. Não tive festa de aniversário e passamos quase um ano de luto, até que minha tia, irmã dele, viu que havia muita coisa errada. Foi então quando meu pai começou a terapia comum psicólogo.

- Dr. Luiz, desculpe a inconveniência, - ele olhou para mim e deixou o copo na pia - mas como o meu pai ainda tem esse tipo de crise?

- Como? - Dr. Luiz parecia realmente não entender.

- Deixe-me ser claro...

- Por favor

- O meu pai faz terapia a anos e ele ainda parece um homem recém-viúvo! - tentei não levantar a voz - Me desculpe, mas eu convivo com ele. Ele está em um estado depressivo, faz tratamento com você a meses e não está melhorando, eu sei disso, porque eu...

- Porque você convive com ele? - Dr. Luiz me interrompeu - Olha Manuel...

- Marcus! - corrigi – O meu nome é Marcus, Dr. Luiz!

- Marcus, perdão! - depois de uma pausa ele continuou - esse incidente de hoje aconteceu porque ele não tomou os remédios direito! Sem os remédios ele não vai melhorar mesmo!

- Só a falta do remédio fez isso?

- Não, eu já tinha aumentado a dose, porém ele não estava tomando pelo que vi quando fui la em cima.

- Mas o vejo tomar os seus remédios diários.

- Agora são quatro e duas metades, Marcus. Ele não te falou?

Longo silêncio. Neguei com a cabeça abaixada.

- Marcus, seu pai ainda não aceitou a morte da sua mãe, se sente impotente por não tê-la salvado, por não ser um pai melhor... - Dr. Luiz continuou

- Ele não era médico! Como um marido salva a esposa de um câncer? – interrompi Dr. Luiz

Ele fez uma pausa.

- Isso não entra na cabeça dele, Marcus! - Dr. Luiz gesticulou encostando o dedo indicador na cabeça.

Eu me encostei-me a pia e todo estresse já havia ido embora. Realmente Dr. Luiz era um calmante. Ele continuou

- As coisas vão melhorar Marcus. Ajude-me com seu pai aqui na casa de vocês, - Dr. Luiz falou e eu assenti com a cabeça embora me parecesse um pedido estranho - veja se ele está tomando a dose e os remédios corretos e caso ele se recuse a tomá-los, eu irei intervir.

- Como? O internando?

- Sim - finalmente falou depois longa puxada de ar.

- Porque não faz isso logo?

- Não é você quem decide isso, Marcus.

- Porque você mesmo não resolve isso logo?

E eu apostava que ele também não podia.

- Me deixa pensar... nem você pode decidir? - continuei.

- Posso, mas eu não quero fazer isso com vocês, portanto me ajude! - ele se virou e andou para a sala. Pegou sua maleta e continuou - aliás, se ajudem. Sabe que pra mim não faz diferença internar ou não, não é? Estou dando essa oportunidade para você!

Ele era um verdadeiro metido. Ignorei-o.

- Obrigado por vir! - cheguei para mais perto dele.

Silêncio.

- Mais alguma coisa? - Dr. Luiz perguntou.

- Sim - ele fez que sim com a cabeça para que eu prosseguisse - Deixa seu número comigo? Eu preciso entrar em contato caso algo aconteça.

- Deixo.

Fui até a sala e peguei um bloquinho de papel na estante e entreguei para ele. Dr. Luiz anotou seu numero com o seu endereço no papel, acrescentou as doses dos medicamentos e depois o guiei até a porta. Eu tinha muito mais coisas para dizer, mas eu não consegui.

- Boa noite, Marcus.

- Boa noite, Dr. Luiz e muito obrigado por vir.

- Disponha! Qualquer coisa ligue-me mesmo - sem mais, demos um aceno para o outro e ele caminhou para seu carro. Branco.

Depois que entrei, percebi que não havia mais ninguém ali na sala além de mim e fui tomar banho. A água escorria pelo meu corpo e levava a tensão daquelas horas embora. Por um momento senti raiva do meu pai. Como ele poderia ter feito isso? Como ele jogou com o estado depressivo dele desse jeito?

No dia seguinte acordei e fui até a minha cômoda pegar o bilhete do Dr. Luiz para conferir, antes de tentar examinar se meu pai tinha tomado os remédios. Helena me ligou e eu contei a história para ela.

- Esses nossos pais, querem acabar conosco - Helena comentou com a boca cheia de pão.

Ainda de manhã, dei minha pedalada diária, no meio do caminho meu celular tocou. Era Dr. Luiz me ligando. Diminui a velocidade e atendi a ligação.

- Marcus - Dr. Luiz estava em um lugar absolutamente silencioso.

- Oi Dr. Luiz, algum problema? - parei de pedalar e encostei-me à calçada para falar melhor.

- Eu que te pergunto Marcus... fez o que eu te mandei ontem?

A palavra "mandei" me irritou e nesse momento uma bicicleta voaria nele se ele me dissesse isso pessoalmente.

- Fiz sim - menti, eu realmente havia me esquecido de cuidar disto.

- E...? - Dr. Luiz falou impaciente, me fazendo respirar fundo.

A raiva me ensurdeceu. Nesse momento, um carro vermelho que estava passando ao meu lado desacelerou e eu olhei para trás com a intenção de ver o que era, mas vi apenas o homem no banco do carona e não o reconheci. Ele me olhou, me analisando dos pés a cabeça. Arrepiei-me e desejei ir embora dali.

- Eu estou na rua, quando eu chegar em casa conversamos - comecei a me desfazer do Dr. Luiz.

- Marcos, eu sou um homem ocupado! Sabe o que isso significa?

- Então quando estiver livre me ligue tudo bem?

O carro continuava parado. Coloque o celular entre o ombro e a orelha comecei a pedalar.

- Não Marcus, com esse tempo todo me enrolando você já podia ter me contado, é sobre seu pai que estamos conversando.

- Depois, Dr. Luiz - falei um tanto alto. Não consegui manter o equilíbrio e precisei por os pés no chão para não cair.

- Marcus! - Dr. Luiz falou com um tom leve de irritação.

- Tchau - desliguei a ligação e voltei a pedalar.

Já estava faltando quinze minutos até a minha casa. O suor escorria no meu rosto e eu usava a minha camiseta para me manter seco. Eu preferi pegar o caminho mais longo para concluir uma hora pedalando. Quando eu estava a três quadras da minha casa, algo empurrou minha bicicleta. Era um carro. Pelo menos eu achava que era um carro já que a força foi grande e não consegui ver o que era, pois quando a minha sanidade me voltou, eu já estava no chão. Meu corpo ardia e meu braço estava torto, talvez quebrado, mas eu não o sentia. Não conseguia gritar ou chamar por alguém. Senti algo me tocando, mas não consegui me virar. Eu chorava, mas não emitia som porque eu não era capaz. Sabe essa história de que antes de morrer se enxerga uma luz? Talvez a luz que me chamava fosse muito mais potente, pois antes que eu apagasse a última coisa que vi foi um clarão branco, mais branco do que a recepção do consultório de psiquiatria do Dr. Luiz.

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Ficha do conto
foto avatar usuario boyonfire
Por: boyonfire
Codigo do conto: 8742
Votos: 0
Categoria: Gays
Publicado em: 13/08/2014

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