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questão de tempo

Por: bbj - Categoria: Gays

Depois de cuidadosa reflexão e consideração eu cheguei à conclusão de que as coisas acontecem para mim por dois motivos. Primeiro, eu tenho um péssimo hábito de viajar no meio de uma conversa. Eu escuto o início, começo a pensar sobre o que eu vou fazer depois, e depois volto a tempo de ouvir o final. Isso se torna particularmente arriscado quando eu peço informações, porque você nunca quer pedir a alguém para repetir algo que já disseram em detalhes específicos. É por isso que muitas vezes acabo em alguns bairros assustadores após o anoitecer. Eu estou voando. Em segundo lugar, eu não sou a pessoa com o melhor discernimento do planeta. Assim, quando um amigo me pede para lhe fazer um favor, eu geralmente apenas concordo sem fazer um monte de perguntas. Não que eu fosse ouvir toda a explicação de qualquer maneira, pois, como eu disse, eu sou provavelmente o modelo para o TDAH, transtorno do déficit de atenção com hiperatividade, a menos que você seja meu chefe ou um cara muito gostoso.
Na noite em que minha amiga Anna me ligou, chorando do outro lado do telefone, eu imediatamente entrei em modo protetor e saí do clube, para que eu pudesse ouvi-la melhor. É impossível ouvir qualquer coisa enquanto música trance está tocando, então eu a fiz esperar para despejar tudo. Eu fiquei feliz e surpreso ao saber que ela ia, finalmente, deixar o marido. Ela ficou comigo ou com sua irmã várias vezes depois que ele batia nela, pela milionésima vez.
É difícil ver os seus amigos irem para a aula usando óculos escuros grandes, e maquiagem tão grossa que poderia ter sido aplicada com uma espátula. Todo mundo sabia que ela apanhava do marido, eu só nunca soube o quão ruim ou constante era. Perdemos contato após a formatura, quando ela se mudou para os subúrbios, mas quando ela ligou eu estava bem ali, de imediato, pronto para ajudar da forma que eu pudesse. Eu disse a ela que, claro, eu faria tudo o que ela precisasse.
Em todos os filmes do canal Lifetime , que eu assisti a última vez que eu estava em casa doente – de ressaca e vomitando – a mulher sempre tem que voltar à casa de horrores na qual ela vivia para pegar o bicho de pelúcia do filho. Mas antes que ela possa colocar o pé no acelerador e apontar a van de último modelo com a painéis de madeira falsa em direção ao por do sol, ela tem que voltar para pegar o coelhinho Boo-Boo ou o Sr. Snuggles, ou um ursinho de pelúcia que foi tão amado por tanto tempo que agora parecia uma iguana. Anna não tinha filhos, mas o que ela tinha era seu beagle, George. Ela não podia voltar, mas não podia ir embora sem seu parceiro no crime. Eles aparentemente haviam executado todos os tipos de pequenos crimes e delitos contra o marido ao longo dos anos. De fazer xixi em sapatos – na parte de George – até esconder produtos diversos – parte de Anna – coisas que tornavam a existência diária de Brian Minor insuportável, em troca do abuso que ele descarregava com o punho e com palavras.
Ela tinha adquirido certo grau de satisfação ao saber que, um dia, a vingança seria dela. Ela sabia que tinha sido covarde por não ir embora simplesmente, mas ela suspeitava que seu marido fosse muito mais sinistro do que ele deixava transparecer. Então, Anna estava finalmente pronta para encerrar sua história com Brian, mas ele teria suspeitado de algo, e provavelmente a matado, se ela tentasse levar o cachorro. Ela precisava que eu fosse buscar seu cachorro para romper definitivamente. Porque eu queria que ela saísse logo daquele lugar, e porque eu teria voltado para buscar o meu próprio cão se ele ainda estivesse vivo, não havia como dizer não.
Depois de deixar meus amigos dançando em um clube em Halsted, peguei um táxi e me dirigi para os subúrbios. Eu tentava nunca deixar a cidade e só tinha estado fora do centro de Chicago em duas ocasiões anteriores. No caminho até lá, tentei lembrar onde na casa ela me disse que o cão estava, mas já que eu não tinha escutado aquela parte, era inútil tentar cavar as informações do meu cérebro. Eu percebi, quando cheguei à casa na qual eu estive apenas uma vez, que não seria difícil encontrar um beagle.
O problema acabou sendo encontrar a própria casa. Esqueci o endereço e não queria ligar de novo para Anna e parecer como se eu não tivesse escutado. Mesmo que eu não tivesse. E então muito tempo já tinha se passado e se eu ligasse para ela agora ela perguntaria por que eu não tinha ligado mais cedo, então...
O taxista e eu demos uma volta por La Grange, até que me lembrei da rua, em uma visão movida por bebidas energéticas depois de fazê-lo parar em um posto de gasolina. Tinha demorado apenas duas horas para chegarmos à sua aparição enorme de três andares. Pedi ao motorista para esperar por mim e ele disse que preferia beber cloro. Eu entendi. Posso ser cansativo, às vezes. Eu o observei ir embora antes de me dirigir para a casa.
A porta da frente se abriu quando eu fui tocar a campainha. Chamei Brian e não obtive resposta. Quando chamei George, ouvi latidos abafados de uma sala à minha esquerda. Era o escritório e, assim que entrei, percebi que o barulho vinha de trás da cortina. Quando eu verifiquei, havia outra porta por trás. Se você não estivesse procurando por ela, não teria visto, mas era impossível não notar o gemido alto do cachorro. Quando eu abri a porta, George pulou em mim, chorando, dançando, todo o seu corpo pequeno se movendo com a sua cauda abanando, tentando como um louco abrir caminho com suas unhas através do meu jeans. Inclinei-me para acariciá-lo, e, quando o fiz, sem querer, sem nem mesmo pensar sobre isso, eu entrei no escritório.
A porta estava aberta, mas por trás da cortina; então, mesmo que eu não tivesse a intenção de me esconder, acabei fazendo exatamente isso. Foi apenas por um segundo, e eu estava pronto para voltar para fora, quando ouvi o estrondo. George gritou e recuou atrás da minha perna.
Olhei ao redor da cortina e vi um homem deitado sobre o resto da pesada mesa de vidro pela qual eu havia passado segundos antes. Ele estava coberto de sangue e murmurando baixinho.
Há aqueles momentos que parecem como se uma luz estroboscópica estivesse piscando em sua cabeça. Você vê pedaços de coisas, mas não toda a imagem. Eu vi o vidro quebrado, os sapatos de couro preto polido dos caras que estavam de pé no tapete persa azul royal; eu vi o chão de mármore polido e Brian com uma arma apontada para o homem. Não soou como nos filmes. Quando uma arma dispara, não há estrondo, é mais como a explosão de uma bombinha. Eu vi o cara estremecer, ouviu quando ele gritou “não,” e vi Brian descarregar a arma. Foi rápido, como o corte de um filme, e pronto. Todos os caras cuspiram nele, e foi nesse momento que duas coisas aconteceram ao mesmo tempo. Primeiro, meu telefone tocou a música “Karma Chameleon,” e, segundo, George fugiu através da cortina. Corri na direção dele e peguei sua coleira, mas não a tempo de parar meu impulso para frente. Era como estar no palco. Eu saí de trás da cortina. Tipo, tchã-ram!
Meus olhos percorreram a sala, eu vi cada rosto antes que parasse no que eu conhecia melhor, o cara segurando a arma vazia.
“Jory!” Brian rugiu, e porque eu não tinha o menor reflexo de luta, eu fugi imediatamente. Eu puxei a coleira de George e o guiei de volta para a outra sala. Enquanto eu mergulhava atrás dele, ouvi os tiros e Brian gritando meu nome. Ele nunca tinha sido louco por mim, mas nós, definitivamente, estávamos em outro lugar nesse momento.
Eu fiquei de pé e corri. Eu gritei para George e ele estava correndo ao meu lado tão rápido quanto suas perninhas permitiam. Eu vi um cara na minha frente, mas em vez de abrandar, eu acelerei. Quando ele puxou a arma, eu caí de joelhos e deslizei para o outro lado do piso de madeira polida. Teria sido muito legal se eu não estivesse correndo para salvar minha vida no momento. Ele caiu em cima de mim, mas eu me desembaracei e corri para a porta da frente. Quando eu a abri, me encontrei diante de Darth Vader.
“Abaixe-se,” ele ordenou, e o que parecia uma bola de baseball o atingiu no peito.
Eu mergulhei para o chão e ele pisou em mim e então alguém me chutou e depois o meu braço foi puxado com tanta força que eu pensei que meu ombro estivesse deslocado. Lá fora, alguém me arrastou para os meus pés antes de me puxar para a rua, onde estavam cerca de uma centena de carros da polícia, luzes piscando em todo lugar. Estava frio e eu reparei nisso antes de qualquer outra coisa. Houve mais tiros e eu fui empurrado para trás de joelhos no chão. Perdi o equilíbrio esbarraram em mim e me empurraram e então alguém me cobriu com um casaco que devia pesar mais ou menos uns 500 kg. Eu caí para trás e George subiu em mim, lambendo meu rosto enquanto eu tentava respirar. Eu estava sem fôlego e quando, finalmente, peguei o cachorro e o abracei para que ele parasse, me dei conta de que quatro homens estavam em pé olhando para mim. Nenhum parecia satisfeito. Um cara em particular, parecia querer me estrangular ali mesmo no meio da rua.
“Dois anos de operação secreta arruinados em segundos,” ele me disse friamente.
O que eu deveria dizer? “Desculpe?”
“Quem diabos é você?” ele rosnou para mim. A carranca parecia permanente.
Eu tossi duas vezes. Minhas costelas doíam. “Jory Keyes.”
“O que você está fazendo aqui, cara?” um dos outros gritou comigo.
Eu tentei tomar um pouco de ar. “Eu vim pegar o cachorro,” eu disse a eles, que era realmente toda a explicação que eu tinha. Parecia uma tarefa tão insignificante no momento.
“O cachorro?”
A expressão no rosto deles eram hilariantes e, até mesmo deitado na calçada, eu tive que sorrir.

* * * * *

Se eu não assistisse tanta TV, a vida real não seria tão decepcionante. No momento, eu estava esperando a sala de interrogatório da série Law & Order e a realidade não era nada assim. Não era escura, era realmente brilhante, e a mesa de metal estava presa ao chão. As cadeiras eram de metal frio e sem qualquer preenchimento, e basicamente não tinha atmosfera ou personalidade que valesse a pena mencionar. Era simplesmente decepcionante e por isso eu estava entediado. Eu tinha uma bolsa de gelo na parte de trás da minha cabeça, um Sprite para o meu estômago, que tinha ficado enjoado quando minha adrenalina disparou, e uma caneta e papel para que eu pudesse escrever tudo o que me lembrava. Eu tinha contado o que tinha visto para várias pessoas diferentes de dez maneiras diferentes. Quando Anna tinha vindo para buscar George, eles não me deixaram vê-la.
Ela estava sendo levada para um lugar seguro nesse segundo. Eu não podia culpá-los. Eu não queria que ela se machucasse também. Minha cabeça estava apoiada nos meus braços cruzados quando a porta se abriu. Muitas pessoas tinham entrado e saído sem que eu sequer olhasse para cima.
“Sr. Keyes.”
Rolei minha cabeça para o lado e percebi que o detetive Sam Kage estava de volta. Ele era, eu tinha decidido, o que me odiava mais. Eu tinha estragado sua investigação secreta com a minha necessidade de ser resgatado. Ele e seus colegas detetives da delegacia de costumes tinham sido forçados a abandonar seus disfarces, virar as armas contra Brian Minor, e me salvar.
A única coisa boa que aconteceu com eles durante toda a noite era que Brian tinha realmente matado um homem a sangue frio e eles tinham uma testemunha ocular... eu. Ele estava indo para a cadeia por um longo tempo. Era tão bom quanto, eles disseram, formação de quadrilha, suborno, chantagem e extorsão. Assassinato em primeiro grau tinha uma pena que os deixaria satisfeito.
“Sente-se e olhe para mim.”
Levantei a cabeça do meu braço e me recostei na cadeira, olhando fixamente para ele. Ele tinha retirado seu colete Kevlar e agora usava camisa e gravata. Ele estava tentando bancar o detetive de polícia levemente civilizado, mas eu não estava acreditando. Eu já tinha visto a besta que habitava em seu interior. Os outros, seu capitão alto e calvo, seu parceiro moreno que parecia ser do leste europeu e os outros dois, que pareciam garotos-propaganda do Corpo de Fuzileiros Navais, todos eles mais gentis do que o detetive Kage. Eu queria qualquer um menos ele na sala comigo.
“Sr. Keyes, você...”
“Que tipo de arma é essa?” Eu perguntei, apontando para seu coldre.
“O que?”
“Que tipo de arma?”
“Por quê?”
Eu dei de ombros. “Eu só estava imaginando.”
“É uma Glock 22.”
“Tudo bem,” eu bocejei, deixando escapar um suspiro profundo. A troca de informações levou, talvez, um segundo e meio. Qual era o próximo passo na agenda?
“Conte-me sobre você, Sr. Keyes.”
Eu olhei para ele. “O que você quer saber?”
“De onde você é?”
“Kentucky,” eu respondi sem rodeios, porque eu geralmente falava Los Angeles ou Miami apenas para soar mais glamoroso, mas eu percebi que ele estava procurando a verdade, sendo um policial e tal.
“Há quanto tempo você está em Chicago?”
“Vim para cá quando eu tinha 17 anos.”
“Você fugiu de casa?”
“Não. Eu me formei no ginásio quando tinha dezessete anos. Sabe, o meu aniversário é em janeiro, então eu entrei na escola com quatro em vez de...”
“Podemos seguir em frente?”
Um pouco rude?
“Bem?”
“Um pouco rude?” Eu disse em voz alta, em vez de apenas pensar.
“Desculpe, vá em frente.”
“Não importa,” eu explodi com ele. Eu odiava ser pego divagando por pessoas que não davam a mínima. Era humilhante.
“Fale logo, me desculpe por interromper.”
Ele não estava arrependido, mas eu percebi que se eu estivesse esperando por sinceridade real, ficaria sentado ali por muito tempo. Era melhor apenas deixar para lá. O que me importava se ele se importava ou não?
“Ok, então eu cheguei aqui, consegui um emprego e estou aqui desde então.”
“Uh-huh. E daí, a sua família ainda está lá em Kentucky?”
“Não,” eu respirei. “Só tinha a minha avó e ela morreu quando eu estava com dez anos.”
“Onde estão seus pais?”
“Eu não faço ideia.”
“Você não tem ideia de onde seu pai está.”
Ele disse que como se não acreditasse. “Não. Eu nem sei quem ele é. O nome dele nem mesmo é mencionado na minha certidão de nascimento, e minha mãe foi embora quando eu tinha três meses de idade ou algo assim. O nome dela era... é Mandy, mas isso é tudo o que posso dizer. Ela nunca voltou, então eu nunca a conheci. “
“Entendo. Então você foi criado por sua avó, e quando ela morreu o que aconteceu?”
“Eu fui para um orfanato.”
Ele olhou diretamente para mim. “Alguma história de horror?”
“Não, eu tive sorte. Eu morei em uma casa para órfãos a partir do momento que eu fiz dez anos até quando eu me formei na escola.”
“Você é próximo de alguma dessas pessoas?”
“Não. Por quê?”
“Por que não?”
“Eu não sei. Você está agindo como se eu tivesse um déficit de caráter ou algo assim.”
“É mesmo?”
“Estava implícito,” eu assegurei a ele.
Ele resmungou.
“Era uma casa para órfãos, detetive. Não era o esquema de mãe/pai adotivos. Era como um dormitório. Eu não era próximo de ninguém. Eles não poderiam ter se importado menos se eu estava lá ou não.”
“Isso te incomoda?”
“Eu não preciso dessa besteira de avaliação psiquiátrica aqui, tudo bem? Foi assim que aconteceu, não importa.”
Ele acenou com a cabeça. “Então você se formou e o que houve?”
“Eu comprei uma passagem de ônibus de Lexington, Kentucky para Chicago, Illinois.”
“E então você chegou aqui e o que aconteceu?”
“Por que isso é importante?”
“Eu só preciso de um panorama, Sr. Keyes, se você não se importa.”
Será que eu me importava? “Ok, então eu cheguei aqui e consegui o emprego que eu tenho agora. Trabalhei durante toda a faculdade e quando eu terminei, decidi ficar em vez de fazer outra coisa.”
“E onde você trabalha?”
“Eu trabalho na Harcourt, Brown, e Cogan,” eu disse com orgulho.
“Pelo seu tom, suponho que eu deveria saber o que é isso.”
Senti minhas sobrancelhas franzirem.
“Qual é a desse olhar?”
“Você está brincando?”
“Não, eu não estou brincando.”
“Você está falando sério?”
“Eu disse que estava.”
“Huh.”
“O que é isso que você disse?”
“Harcourt, Brown, e Cogan... é uma das principais empresas de arquitetura da cidade.”
“A-ham.”
“Meu chefe, Dane Harcourt, ele é o principal arquiteto. Miles Brown faz design de interiores e Sherman Cogan é o arquiteto de paisagismo.”
“O que principal arquiteto quer dizer?”
“Ele projeta casas.”
Ele olhou para mim um longo minuto. “É mesmo?”
“Sim. Ele é muito famoso.”
“Se ele é tão famoso por que nunca ouvi falar dele?”
Eu dei um sorriso irônico. “Aposto que as pessoas das quais você nunca ouviu falar poderiam encher um livro, detetive.”
“Você é um abusado, sabia disso?”
Eu sorri para ele. “Resposta particularmente agradável, Detetive.”
“Então é isso, sem família, só você?”
“Apenas eu.”
“Isso vai ser fácil, então.”
“O que vai ser fácil?”
“Fazer com que desapareça.”
“Como assim?”
“Custódia protetora, proteção à testemunhas... você está começando a entender?”
Eu balancei a cabeça. “Só me diga quando eu posso ir para casa.”
Seus olhos se estreitaram mais do que já estavam. “Você é estúpido?”
Eu só esperei, olhando para ele.
“Sr. Keyes, você nunca irá para casa novamente. Você vai para o programa de proteção à testemunhas. Agentes federais estarão aqui de manhã para transportá-lo para...”
“Sim, claro,” eu me levantei. Eu estava cansado de ser tratado como se tivesse feito algo errado. “Eu estou indo agora. Estou exausto e tenho que ir trabalhar de manhã.”
“Sr. Keyes, pessoas querem te matar. Você entende isso? Brian Minor é muito bem conectado e...”
“Eu tenho que ir,” eu disse enquanto me levantava e me dirigia para a porta.
“Sr. Keyes, você vai entrar para a custódia protetora.”
“Uh-huh,” eu zombei dele, parando na porta apenas o tempo que levou para abri-la e passar. No final do corredor, Brian estava sendo levado para onde quer que fosse por dois policiais uniformizados.
“Jory!” ele gritou. “Você é um homem morto! Você me entende? Morto!”
Eu sorri para ele e fiz um gesto obsceno. Ele se soltou e veio correndo pelo corredor em minha direção. Eu não tinha ideia do que ele pensava que iria fazer comigo, algemado como estava, mas ele veio mesmo assim. Ele sempre tinha sido tão grande e brutal, um daqueles caras que pareciam um touro numa loja de porcelana. Vários homens grandes conseguiam se mover fluidamente, como se seu tamanho fosse perfeito para eles, mas Brian sempre pareceu ignorar o quanto era forte ou os limites de seus próprios ombros e pernas. Se arrastando como um animal era o que sempre vinha à minha mente. Então, quando ele me alcançou, eu me abaixei e coloquei minha perna debaixo dele. Ele caiu duramente com o rosto no chão de ladrilhos aos meus pés. Fiquei ali um segundo e, em seguida, muito teatralmente, passei por cima dele.
“Seu filho da puta!” ele gritou para mim.
“Cale a boca,” eu disse, irritado.
“Jory!” ele gritou para mim enquanto eu pulava suas pernas antes de ser enterrado sob cinco policiais. “Eu vou acabar com você... seu veado filho da puta! Você me ouviu? Jory! Você filho da puta!”
“Oh, vá para o inferno, Brian,” eu grunhi, me virando para me afastar dele. “E esse negócio de veado é tão antigo. Quem ainda usa essa palavra?”
“Jory!” ele gritou atrás de mim.
“Pessoas que dirigem caminhonetes e carregam armas, são essas,” eu ri, minha própria risada parecendo um pouco confusa. Eu estava pronto para desmaiar.
“Jory!” Sua voz tinha perdido parte de seu poder, mas ele ainda estava gritando.
Fui em direção às escadas.
“Sr. Keyes!”
Eu girei ao redor e o detetive Kage estava lá com seu capitão que eu tinha conhecido antes e outro cara de mandíbula e corte de cabelo quadrados que tinha estado na rua com ele. Ele cutucou minha clavícula com dois dedos como se estivesse tentando perfurar minha pele.
“Onde diabos você pensa...”
“Sam,” alertou o capitão, erguendo a mão. “Não vamos...”
“Ele é um idiota,” ele gesticulou para mim “e vai estar morto a essa hora amanhã.”
“E quem faria isso? Brian?” Eu sorri para ele. “Dá um tempo.”
Ele gesticulou para mim novamente, mas não disse nada.
“Sr. Keyes,” o outro detetive começou, sua voz suave, calmante. “Mesmo que você pense no Sr. Minor como simplesmente o marido filho da puta de uma de suas amigas, você deve acreditar quando nós dizemos que aquele não é um homem bom. Ele é um traficante de drogas, um assassino, e alguém cujo caminho você não quer atravessar. Existem muitas pessoas que não o querem na posição de escolher entre passar um tempo na prisão ou falar o que sabe sobre eles. Só você tem o poder de colocá-lo atrás das grades. Sem você, ele está livre. Você entende isso? “
“Eu entendo,” eu disse a ele. “Mesmo. Eu vou depor. Vou fazer o que for preciso para que ele nunca mais veja Anna de novo, enquanto ele viver. Prometo, mas falando sério – eu tenho uma vida. Quero dizer, eu entendo, após estar aqui durante as últimas cinco horas, que vocês não acham que ser assistente de alguém é importante. Mas eu prometo que, para o meu chefe, eu sou realmente importante. Tenho tanta merda para fazer, que vocês não têm ideia.” Soltei uma respiração rápida, finalmente balançando a cabeça. “Liguem para mim e me digam quando eu preciso comparecer no tribunal.” Eu disse, descendo as escadas para a saída.
“Sr. Keyes.”
Suspirei e me virei, olhando para o capitão.
“Eles irão atrás das pessoas que você ama.”
Eu dei de ombros. “Boa sorte ao tentar encontrar alguma.” Eu disse, antes de me virar para longe dele.
Lá fora, o ar estava frio. Eu tinha esquecido que ainda estava usando minhas roupas para dançar, que, naquela noite, consistia de uma camiseta de spandex preta, jeans boot-cut marrom apertado e desbotado e botas de motoqueiro. Então, porque era novembro, eu estava congelando. O ar cheirava a chuva iminente e a brisa estava gelada. Meus dentes começaram a bater, enquanto procurava por um táxi.
Um carro diminuiu a velocidade ao meu lado e eu ouvi o som da janela automática abaixando. Quando me virei, um cara estava sorrindo para mim do lado do motorista.
Esperei pela cantada.
“Ei, cara, você precisa de uma carona?”
O fato de um homem de meia-idade em tentando me chamar para um programa na mesma van que ele usava para levar seus filhos para a escola me deixou enojado, minha pele se arrepiando.
“Eu estou falando com você, garoto bonito.”
“Não, obrigado,” eu disse rapidamente, esperando que ele fosse embora. “Eu não preciso de carona.”
“Vamos lá,” ele insistiu, “quanto é?”
“Eu não estou fazendo ponto, cara, só estou andando,” eu disse, me movendo mais rápido.
“Claro que você está,” ele olhou de soslaio para mim. “Entre.”
E eu pensei: é a roupa do clube fora do clube, no centro da cidade, andando pelas ruas sozinho às duas da manhã. Eu não podia deixar de entender sua lógica. Eu tinha garoto de programa escrito em minha testa.
“Eu...”
A buzina assustou a nós dois. Eu pulei, e o cara ficou tão assustado que ligou o motor e foi embora. Teria sido engraçado se o meu coração não estivesse batendo tão forte. Eu tremi involuntariamente e olhei para cima quando alguém gritou meu nome.
Então eu vi o SUV enorme (o nome era algo náutico) preto e brilhante, e através da janela abaixado estava o detetive Kage. Ele estava me chamando com um gesto. Enfiei as mãos no bolso enquanto me dirigia para ver o que ele queria.
“Entre,” ele se virou para mim assim que eu olhei pela janela.
“Eu...”
“Sr. Keyes,” disse ele bruscamente, e a exasperação não passou despercebida. “Você está tão perto de ser colocado no veículo, quer você goste ou não.”
A maneira como ele disse a palavra veículo, de modo clínico, bem como o policial que era – Afaste-se do veículo, coloque as mãos sobre o veículo, entre no veículo – foi engraçado. “Ah, é?” Eu o provoquei, porque percebi que eu poderia me mover antes que ele me segurasse. “Você acha?”
“Sim,” ele me avisou, o seu olhar chato e sombrio. “Eu acho que sim.”
E não foi tanto o tom sinistro ou o jeito que ele olhava para mim, mas como o músculo flexionava em sua mandíbula. Eu percebi que estava mais perto do perigo do que pensava. Ele era maior que eu, então as chances de que ele pudesse me machucar eram muito boas.
Eu abri a porta e me acomodei no banco, fechando com força a porta pesada.
Ele resmungou para mim. “Coloque o maldito cinto de segurança.“
“Você sabe onde eu moro?” Eu perguntei a ele.
“Sim,” ele quase rosnou. Ele tinha uma daquelas vozes baixa e rouca, do tipo que, em outras circunstâncias, eu teria achado sexy como o inferno.
“Eu não vivo na cidade.” Eu queria ter certeza de que ele sabia onde estava indo. “Eu vivo do outro lado da Austin Avenue em Oak Park.”
Ele não respondeu, então eu desisti. Tinha uma porcaria de cowboy tocando no rádio, mas estava baixo, então eu não reclamei.
“Você está me ouvindo?” Perguntei-lhe, verificando.
“Eu sei onde você mora,” ele disse rápido, claramente exasperado.
“Foi uma das muitas perguntas que você me respondeu, como deve se lembrar.”
Revirei os olhos quando meu telefone tocou. “Alô?” Eu respondi.
“Onde diabos você foi?” Taylor Grant me perguntou, irritado.
“Tirar um amigo de uma enrascada,” sorri, relaxando no assento.
“Você ia voltar ou ligar?”
Eu ri. “Eu pensei que esse não fosse o nosso acordo. Qualquer um de nós poderia ir embora a qualquer momento. É a regra,” eu o lembrei alegremente.
Longo silêncio.
“Certo?”
“Sim, claro,” disse ele, o incômodo claro em sua voz.
“Então, onde você está?”
“Indo para casa.”
“Ah, é?”
“É. Por quê?”
“Diga-me onde é.”
“Não. Ligo para você depois,” eu disse a ele.
“Jory,” ele disse suavemente. “Por favor, me deixe ver...”
“Mais tarde,” eu bocejei e desliguei. Eu não estava no clima para companhia. Eu só queria ir para casa, tomar banho para apagar a noite, e desmaiar na minha cama.
“Amigo seu?”
“Na verdade não,” eu disse a ele, “só um cara.”
“Você tem um monte de caras?”
Eu me virei lentamente para olhar para ele.
“O que?” ele perguntou rispidamente.
“Que tipo de pergunta é essa?”
“Justa, eu diria.”
Voltei a olhar para fora da janela.
“Quantos anos você tem?”
“Vinte e dois.” Respondi rapidamente, tentando não explodir.
“Vinte e dois,” repetiu ele.
“Sim.”
“Como você pode se dar o luxo de viver sozinho?”
Era uma pergunta estranha. “Eu já te disse, eu tenho um bom emprego.”
“E o que mais?”
Eu virei de novo para olhar para ele. “O que isso quer dizer?”
“Eu acho que você sabe.”
“Eu acho que não, detetive. Você precisa ser claro para mim.”
“Tudo bem. Tem algum cara que te ajuda com a sua renda em troca de transar com você?”
Isso foi definitivamente claro. “Não,” eu mal consegui falar através de meu maxilar cerrado.
“Não?”
“Como você sabe que eu sou gay, detetive?”
Ele olhou para mim com escárnio. “Vestido assim?”
“Sabe do que mais, me deixe sair aqui mesmo.”
“Pare com isso. Não seja tão dramático.” Ele ficou irritado, sua voz transbordando com o sentimento. “Todos vocês são tão malditamente dramáticos.”
Todos vocês? “Você quer dizer que os gays?”
“Deixa pra lá, tudo bem? Eu estou cansado e não estou com vontade de discutir com você. Estou levando-o para casa porque, se eu não fizer isso, você vai congelar até a morte. Você não tem nem mesmo uma jaqueta. “
“Eu prefiro correr o risco.”
“Apenas sente e cale a boca.”
E eu lhe concedi o pedido e não troquei mais uma palavra com ele durante o resto do caminho. Quando ele me deixou em frente da antiga casa vitoriana que foi transformada em quatro apartamentos, eu saí. Bati a porta e corri pelo gramado sem olhar para trás. Eu não verifiquei para ver se ele esperou.
Quando cheguei lá dentro eu imediatamente caí sobre minha cama, completamente vestido, ainda com os meus sapatos. Eu estava exausto. Ter pessoas atirando em você enquanto você corria para salvar a sua vida era realmente muito desgastante.


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Por: bbj
Codigo do conto: 13564
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Categoria: Gays
Publicado em: 25/01/2018

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